01 Fev, 2023

Teoria da Universalidade das Emoções de Ekman

O campo da neurociência comportamental convive com diferentes abordagens para se entender e estudar as emoções. Nesse artigo, vamos falar da Teoria da Universalidade das Emoções de Paul Ekman.
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Teoria da Universalidade das Emoções de Ekman

 Paul Ekman, professor emérito da Universidade da Califórnia, é um psicólogo americano pioneiro no estudo das emoções e expressões faciais. Ekman é considerado uma autoridade na área, constando da lista dos 100 mais notáveis psicólogos do século XX. Nas últimas décadas tem se dedicado à Teoria da Universalidade das Emoções.

Ekman define que “as emoções são um processo, um tipo particular de avaliação automática influenciada pelo nosso passado evolutivo e pessoal, no qual sentimos que algo importante para o nosso bem-estar está ocorrendo, provocando assim um conjunto de mudanças psicológicas e comportamentos emocionais para lidar com a situação” (Paul Ekman Group, n.d.).

De acordo com Ekman, as expressões faciais de algumas emoções seriam universais, ainda que se valham de especificidades culturais. Na visão da universalidade as emoções são localizadas, ou seja, ocorrem em áreas funcionais específicas do cérebro. Segundo Ekman (2003, 2004), as emoções preparam os indivíduos para lidar com eventos importantes, sem que se tenha consciência de como elas ocorrem e sem que se escolha como senti-las. Assim sendo, essas respostas emocionais ocorreriam de forma espontânea, autônoma. Ekman categoriza sete emoções básicas universais: alegria, tristeza, medo, surpresa, nojo, desprezo e raiva as quais transcenderiam diferenças linguísticas, regionais, culturais e étnicas em sua expressividade.

A universalidade da expressão facial das emoções foi iniciada de forma científica por Charles Darwin quando da publicação do livro The expression of the emotions in man and animals, em 1872. Darwin apresentou evidências de que as expressões emocionais seriam inatas, produtos da evolução e, portanto, fariam parte da biologia das espécies. Darwin propôs que haveria uma estrutura cerebral e uma codificação genética responsável pela expressão comportamental universal das emoções nos seres humanos e em outros animais. Dessa forma, as expressões faciais de certas emoções seriam partilhadas por todos os membros de uma mesma espécie, sem que isso fosse o resultado da aprendizagem comportamental de diferentes culturas e sociedades.  

Para Ekman, as emoções ocorrem em resposta a algum tipo de estímulo real, imaginado ou revivido, e se manifestam por meio de eventos físicos, de  interações sociais e de lembranças ou imaginação sobre um determinado evento ou experiência passada. Para o pesquisador, ainda que algumas emoções sejam universais, a expressão emocional de um indivíduo varia de acordo com as influências culturais e experiências pessoais únicas. Por exemplo, o estudo de Biehl et al. (1997), tendo Ekman como colaborador, constatou diferenças culturais de percepção emocional em países como Japão, Estados Unidos, Hungria, Polônia e Sumatra. Os resultados não invalidaram a universalidade as emoções, mas foram encontradas distinções internacionais no nível exato de concordância para representações de raiva, desprezo, nojo, medo, tristeza e surpresa. Da mesma forma, houve diferenças nas classificações de como cada cultura atribuía um grau de intensidade a certas expressões emocionais. A conclusão, é que existem regras aprendidas de julgamento de emoções que diferem de cultura para cultura, sem que isso invalide a teoria da universalidade.

Para que a teoria da universalidade das emoções fosse totalmente validada, sem  influências interculturais, Ekman realizou uma investigação com a tribo Fore da Papua-Nova Guiné, totalmente separada da civilização ocidental, e sem acesso a qualquer tecnologia. Após vários testes, Ekman e investigadores obtiveram resultados idênticos ou muito próximos às investigações previamente realizadas com diferentes povos da cultura ocidental (Ekman & Rosenberg, 2005). Na sequência, Ekman desenvolveu a teoria neuro-cultural das emoções, que aponta características universais e inatas relacionadas às estruturas e ao funcionamento cerebral, mas também aponta a influência da cultura naquilo que diz respeito à permissividade ou não de uma exibição emocional.

No entanto, Carlos Crivelli, psicólogo espanhol da Universidade Autónoma de Madri, em 2015 realizou novas pesquisas sobre a universalidade das emoções com algumas tribos da Papua-Nova Guiné, cujos resultados abalaram os paradigmas da teoria de Ekman. De acordo com Crivelli, ao mostrar aos habitantes da ilha de Trobriand fotografias do típico semblante ocidental do medo – com os olhos tensos e muito abertos e a boca também aberta – eles não perceberam um semblante assustado. Em vez disso, interpretaram a fisionomia como indicação de ameaça e agressão. Como resultado, Crivelli publicou um artigo na PNAS, uma das revistas científicas mais influentes do mundo, inferindo que esse gesto não seria inato e sim uma tradição ocidental (Crivelli & Fridlund, 2018).

O fato é que há seguidores e críticos do trabalho de Ekman e, à medida que surgem novos estudos sobre a universalidade das emoções, surgem também prós e contras em direção à teoria. Por enquanto, Paul Ekman ainda é considerado a maior referência da atualidade quando o assunto se trata de  expressão emocional.

Um fato curioso sobre Paul Ekman, é que ele atuou como consultor científico do seriado americano “Lie to Me”, exibido pela Fox. O personagem principal,  Dr. Cal Lightman, um pesquisador especialista em detectar fraudes e mentiras observando a linguagem corporal e as microexpressões faciais de possíveis infratores da lei, foi inspirado no próprio Ekman.

Outro fato interessante, é que Ekman também foi consultor científico do “Divertida Mente”, um filme de animação estadunidense produzido pela Pixar, que explora como as emoções influenciam no desenvolvimento e operam na mente.

  

Referências

Biehl, M., Matsumoto, D., Ekman, P., Hearn, V., Heider, K., Kudoh, T., & Ton, V. (1997). Matsumoto and Ekman’s Japanese and Caucasian facial expressions of emotion (JACFEE): Reliability data and cross-national differences. Journal of Nonverbal Behavior, 21(1), 3–21. https://doi.org/10.1023/A:1024902500935

Crivelli, C., & Fridlund, A. J. (2018). Facial Displays Are Tools for Social Influence. Trends in Cognitive Sciences, 22(5), 388–399. https://doi.org/10.1016/j.tics.2018.02.006

Ekman, P. (2004). What we become emotional about. In Feelings and Emotions: The Amsterdam Symposium (pp. 119–135). Press, Cambridge University.

Ekman, P., & Rosenberg, E. L. (2005). What the Face RevealsBasic and Applied Studies of Spontaneous Expression Using the Facial Action Coding System (FACS). Oxford University Pres.

Paul Ekman Group. (n.d.). Universal Emotions. 2023. https://www.paulekman.com/universal-emotions/

 

 

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