29 Jul, 2024

Neurofinanças: Explorando Vieses e Heurísticas na Tomada de Decisão Financeira

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Neurofinanças: Explorando Vieses e Heurísticas na Tomada de Decisão Financeira

Introdução

As decisões financeiras são frequentemente influenciadas por vieses cognitivos e heurísticas que distorcem nossa racionalidade econômica. A neurofinanças, um campo que integra neurociência e economia comportamental, fornece insights valiosos sobre como esses vieses são representados e processados no cérebro, ajudando-nos a compreender as raízes biológicas do comportamento financeiro irracional.

Vieses Cognitivos e Heurísticas: Fundamentos Neurocientíficos

1.    Heurística da Disponibilidade:

A heurística da disponibilidade descreve nossa tendência a julgar a probabilidade de um evento com base na facilidade com que exemplos vêm à mente. Neurocientificamente, isso está relacionado à ativação de áreas cerebrais associadas à memória e reconhecimento, como o hipocampo. Quando as pessoas tomam decisões financeiras, elas podem superestimar a probabilidade de eventos "memoráveis", como uma crise de mercado, devido à facilidade com que essas memórias são acessadas.

2.    Viés da Confirmação:

Este viés descreve a tendência de favorecer informações que confirmam nossas crenças preexistentes, ignorando evidências contrárias. A neuroimagem mostra que isso está ligado à ativação de áreas cerebrais associadas ao prazer e recompensa, como o núcleo accumbens, que são estimuladas ao recebermos informações que confirmam nossas expectativas. Esse processo pode levar investidores a manterem investimentos subótimos baseados em convicções infundadas.

3.    Efeito de Ancoragem:

O efeito de ancoragem ocorre quando as pessoas dependem excessivamente da primeira informação que recebem para fazer julgamentos subsequentes. Neurologicamente, isso pode ser explicado pela influência inicial forte no córtex pré-frontal, uma região envolvida no raciocínio e tomada de decisão. Essa "âncora" inicial pode distorcer avaliações financeiras, desde a avaliação de ativos até decisões de compra e venda.

4.    Aversão à Perda:

A neurociência explica a aversão à perda, um fenômeno onde as pessoas sentem uma dor desproporcional de perder em comparação com o prazer de ganhar uma quantia equivalente. Áreas como a ínsula e o córtex cingulado anterior, que processam emoções negativas e conflito, são particularmente ativadas durante a experiência de perdas financeiras. Isso pode levar os investidores a evitar riscos necessários ou a vender ativos precipitadamente durante uma baixa do mercado.

Implicações e Aplicações das Neurofinanças

Compreender os substratos neurais das decisões financeiras pode melhorar a forma como lidamos com dinheiro no dia a dia. Essa compreensão pode levar ao desenvolvimento de melhores ferramentas educacionais que ensinam as pessoas a reconhecer e controlar emoções e vieses que afetam suas finanças. Além disso, políticas públicas podem ser formuladas para ajudar a proteger os consumidores de decisões prejudiciais e promover a saúde financeira da sociedade.


Conclusão

As neurofinanças proporcionam uma visão valiosa dos mecanismos biológicos que moldam nossas decisões financeiras. Ao explorar a intersecção entre neurociência e comportamento econômico, podemos começar a entender melhor e a moldar comportamentos financeiros de maneira que promova decisões mais conscientes e fundamentadas.

Referências

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Kuhnen, C. M., & Knutson, B. (2005). The neural basis of financial risk taking. Neuron, 47(5), 763-770.

Starcke, K., & Brand, M. (2012). Decision making under stress: A selective review. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 32(4), 1228-1248.

Glimcher, P. W., & Fehr, E. (Eds.). (2014). Neuroeconomics: Decision Making and the Brain. Academic Press.

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